segunda-feira, 12 de junho de 2017

A Múmia (2017)



Tom Cruise tenta lançar um novo franchise com este filme, tal como aconteceu com «Missão Impossível» e «Jack Reacher». O problema é que «A Múmia» está a milhas de distância de ser um bom filme e, muito menos, o princípio de algo surpreendente (ao que parece, a Universal está a planear a saída de um conjunto de filmes com o Drácula, o Lobisomem, o Homem Invisível e a Criatura da Lagoa Negra, entre outros). Para começar, a história teria de se levar um pouco mais a sério, coisa que não acontece. Depois, teríamos de ter personagens com as quais realmente nos importássemos, o que não é o caso. A única coisa que podemos fazer é olhar para o aspecto aventureiro do filme e regalarmo-nos com algumas cenas de encher o olho – o avião militar em queda livre com os seus ocupantes no interior em gravidade zero e as explosões a que o nosso herói foge milagrosamente.

A história começa há séculos atrás quando uma princesa egípcia, destinada a ser a primeira rainha do Antigo Egipto, vê esse direito ser-lhe retirado quando o seu pai tem um filho varão de outra mulher. Assim, a princesa Ahmanet opta por fazer um pacto com o deus do Mal Set, mata o pai, a madrasta e o irmão bebé e quase consegue fazer com que o deus Set reencarne no corpo do seu amante, mas é apanhada antes de sacrificar o amante. Sendo enterrada vida, é encontrada séculos mais tarde por Nick Morton a quem escolhe para ser o novo receptáculo de Set, depois de voltar à vida. Já de si não é uma premissa genial mas o rumo que a história toma, sem nunca saber se quer ser um filme de terror, um filme de acção ou uma comédia, acaba por torná-lo desinspirado em todas as frentes.

Tom Cruise continua igual a si próprio, não convencendo nem deslumbrando. Os secundários, Annabelle Wallis, Jake Johnson (este a proporcionar um momento à «Lobisomem Americano em Londres») e Russell Crowe estão um pouco melhor, mas ainda assim, limitam-se a cumprir os seus papéis, sem grande empenho. Sofia Boutella, a princesa Ahmanet, consegue ser assustadora, o que é bom num filme que pretende ser arrepiante.

Este «A Múmia», apesar de contar com um dos mais estimados actores do mundo, fica abaixo do filme de 1999 com o mesmo nome encabeçado por  Brendan Fraser e Rachel Weisz.

Nota: 2,5 em 5.

Desejo-vos muitos e bons filmes.


terça-feira, 30 de maio de 2017

Piratas das Caraíbas: Homens Mortos não Contam Histórias (2017)






Este é o 5º capítulo das aventuras do inebriado Capitão Jack Sparrow. E tem tudo o que os anteriores tinham: aventura desbragada, humor descontrolado e umas pitadas de romance. O excelente Johnny Depp volta a marcar presença neste filme, ou não fosse ele a estrela desta saga. A acompanhá-lo estão duas caras novas, Brenton Thwaites e Kaya Scodelario, o casal romântico de serviço. De volta está o magnífico Geoffrey Rush com o seu Barbossa e até Orlando Bloom e Keira Knightley aparecem, nem que seja para dizer olá. E qual cereja no topo do bolo, Javier Bardem e o seu temível Capitão Salazar: Bardem com os seus cabelos a flutuar languidamente ao vento e crânio rachado é o terror dos sete mares e a peça sobrenatural que caracteriza todos os filmes da saga «Piratas das Caraíbas».

Desta vez, Jack Sparrow desperta, acidentalmente, uma antiga maldição, sob forma do Capitão Salazar e a sua tripulação fantasma, que logo trata de se pôr no encalço de Sparrow para saldar uma dívida antiga. A única esperança que este tem é de conseguir encontrar o lendário Tridente de Poseidon, um artefacto capaz de destruir toda e qualquer maldição. Para isso, contará com a ajuda de Henry Turner e Carina Smyth (Thwaites e Scodelario, respectivamente).

Que mais se pode dizer deste filme que não tenha sido já dito dos anteriores? É divertido, escapista, tresloucado e muito exagerado (a cena do banco a ser arrastado pelas ruas da cidade é disso um claro exemplo). Quem gosta deste universo, vai encontrar aqui muito com que se banquetear, quem nunca se deixou apadrinhar por estas aventuras, não vai tornar-se fã a partir de agora.

Aqui entre nós, o filme não é bom nem é mau. Acaba por ser mais do mesmo. A saga começa, por fim, a revelar sinais de cansaço, o que é evidente no facto de as receitas de bilheteira terem ficado abaixo das dos filmes anteriores no fim-de-semana de estreia. Aparentemente este é o último tomo de «Piratas das Caraíbas», o que, a ser verdade, permite que a saga feche ainda com chave de ouro.

Nota: 3 em 5.

Desejo-vos muitos e bons filmes. 

sábado, 27 de maio de 2017

Rei Artur: A Lenda da Espada (2017)




O que dizer do novo filme de Guy Ritchie? Que é grandioso, desde as primeiras imagens até aos créditos finais? Sem dúvida. Que consegue ser o épico que ambiciona ser? Absolutamente. Mas isso faz dele um filme brilhante? Aí é que a porca torce o rabo…

Após fazer uma incursão pelo universo do mais célebre detective da História, Sherlock Holmes, Guy Ritchie resolve recontar a história do Rei Artur e dos seus Cavaleiros da Távola Redonda. No entanto, fá-lo de forma não convencional para um filme deste género: a infância e juventude do Rei Artur é passada em modo fast forward, como se de um videoclip se tratasse, para chegarmos ao Artur adulto (Charlie Hunnam). Isto faz com que haja um certo desapego emocional em relação a esta personagem, por acompanharmos a sua evolução num abrir e fechar de olhos. Depois, temos a imagem de marca de Guy Ritchie que são os diálogos de taberna rápidos e acutilantes dos camaradas do Rei Artur e que estão presentes em quase todos os seus filmes, mas que aqui parecem destoar um pouco do tipo de filme. Quem aprecia este pormenor nos trabalhos de Ritchie, não vai sair defraudado.

Depois temos Jude Law a interpretar o vilão Vortigern, tio de Artur e usurpador do trono de Camelot. As motivações desta personagem deveriam ter sido mais aprofundadas no sentido de compreendermos as suas razões para odiar tanto o sobrinho a ponto de sacrificar membros da sua própria família para tentar derrubá-lo e elevar os seus poderes. 

Há também o aspecto da magia que tira alguma seriedade a um filme que, de outro modo, tem os pés bem assentes na terra. É óbvio que a magia sempre esteve presente neste conto, ou não fosse a espada Excalibur um exemplo disso mesmo, mas não era necessário exagerar - cobras e elefantes gigantes para quê? E por que razão Vortigern não usa os seus poderes de feiticeiro para aniquilar Artur e seus companheiros? Há muitas incoerências neste filme bem como a falta de uma boa história para o podermos considerar um clássico.

Nota: 2 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

sábado, 20 de maio de 2017

Alien: Covenant (2017)




«Alien: Covenant» é o filme mais recente da saga “Alien” e, tal como o anterior «Prometheus», surge-nos pela mão do mítico realizador Ridley Scott (que já nos trouxe trabalhos seminais como «Alien: O Oitavo Passageiro» e «Blade Runner»). Este novo capítulo é a continuação de «Prometheus» e explora mais detalhadamente o que aconteceu aos sobreviventes da fatídica nave com o mesmo nome. Por outro lado, a inclusão do título “Alien” sugere, e bem, que vamos ter a presença mais regular do xenomorfo assassino mais conhecido da galáxia e uma nova vaga de sangue, suor e lágrimas (já para não falar de tripas).

Tudo começa quando, algures no espaço, uma nave espacial chamada Covenant, a caminho de uma colónia planetária recebe uma transmissão oriunda de um planeta próximo. Com pouca vontade de fazer perdurar a viagem devido a um acidente que quase a vitimou, a tripulação decide investigar o planeta que, aparentemente se assemelha a um jardim do Éden, no sentido de saber se encontrou um lugar ideal para viver. Tudo parece correr bem até descobrirem que afinal não aterraram no Paraíso mas sim num Inferno infestado de criaturas grotescas e assassinas que não só comem carne humana como a usam para a reprodução. A partir daí está o caos instalado.

«Alien: Covenant» é melhor do que o anterior «Prometheus» no sentido em que apresenta um maior leque de criaturas alienígenas e tem bastante mais acção e consegue até aprofundar muitas das questões religiosas e metafísicas do último filme. Por outro lado, é desequilibrado, nunca decidindo se o seu lugar é no universo de «Prometheus» ou se pertence ao mundo de «Alien», o que pode irritar alguns espectadores. É igualmente um tanto desinspirado, na medida em que já vimos tudo isto noutros filmes, sobretudo em «Alien: O Oitavo Passageiro» e «Aliens» de James Cameron e feito de melhor forma.

Ainda assim, e considerando que se trata de um filme competente, com um grande trunfo na manga – Michael Fassbender no papel dos robôs David e Walter (que soberbo actor!) – vale sempre a pena ir vê-lo ao cinema. É um filme para fãs das sagas referidas e até para quem visita este universo pela primeira vez.

Nota: 3,5 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Ghost In The Shell - Agente do Futuro (2017)






«Ghost In The Shell» é o remake americano de um filme de animação japonês (anime) de 1995 que, por sua vez, é uma adaptação de uma manga japonesa com o mesmo nome. A ideia de base desta história é a fusão da tecnologia com a humanidade e os benefícios e perigos que daí podem advir. Neste remake americano acompanhamos a personagem Major (interpretada pela sobejamente conhecida Scarlett Johansson), o primeiro ser a ter um cérebro humano e um corpo completamente artificial. Major trabalha numa instituição policial chamada Secção 9 que está na peugada de um perigoso hacker capaz de aceder aos cérebros das pessoas e controlá-los.

Este remake apresenta um grande aparato visual, onde se destacam as cenas dos mergulhos da Major do alto de edifícios vertiginosos e as magníficas paisagens urbanas repletas de anúncios publicitários, claramente inspiradas na estética de «Blade Runner». A colagem visual a este filme e a falta de originalidade do enredo acabam por ser, no entanto, o calcanhar de Aquiles de «Ghost In The Shell»: já vimos o mesmo noutros filmes e explorado até de forma mais profunda («Robocop» é um exemplo óbvio).

Scarlett Johansson vai bem neste filme, abraçando sem dificuldade uma personagem austera e desprovida de emoção. Mais uma vez, e como já aconteceu em «A Grande Muralha» com Matt Damon, a escolha desta actriz ficou envolvida em polémica por ser uma cara americana num filme quase totalmente nipónico (e de raiz fortemente nipónica). Mas Hollywood considerou que era a única forma de vender uma história que, até aqui, passou ao lado de quase toda a sociedade americana.

À semelhança de Johansson, também o resto do elenco parece desprovido de emoção, funcionando de modo frio e maquinal. Isto é evidente na cena em que um suspeito é capturado pela Major e se suicida na prisão, em frente a todos, continuando os demais a falar como se nada tivesse acontecido.

«Ghost In The Shell» é para quem gosta de sci-fi com um travo a policial noir.  

Nota: 3,5 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

sábado, 1 de abril de 2017

Vida Inteligente (2017)





Daniel Espinosa traz-nos este «Life» ou «Vida Inteligente» em português, um amontoado de ideias retiradas de «Alien: O Oitavo Passageiro» com alguns momentos extraídos de «Gravidade» e até «Event Horizon». Com efeito, a colagem a «Alien» é tão grande que todo o filme parece um enorme decalque desse título seminal de ficção científica. Os guionistas - os mesmos que nos deram o interessante «Deadpool» - resolveram abandonar o mundo dos super-heróis para fazerem uma abordagem ao universo sci-fi, embora tenham dificuldade em fazer algo brilhante ou sequer original.

A narrativa resume-se ao seguinte: temos uma equipa de seis elementos, entre os quais Ryan Reynolds, Rebecca Ferguson e Jake Gyllenhaal, estacionados na Estação Internacional Espacial que recebem uma sonda que esteve a explorar solo marciano. Nessa sonda vem presente um organismo biológico unicelular que vem confirmar a existência de vida para além da Terra. A equipa e toda a humanidade rejubilam com a descoberta, tratando até de arranjar um nome carinhoso – Calvin – para o ser microscópico. Contudo, a situação muda quando Calvin começa a crescer exponencialmente e a revelar força e inteligência anormalmente grandes. Por fim consegue evadir-se e começar a fazer a vida negra à equipa que, tem agora como missão impedir que o organismo atinja solo terrestre.

O design da Estação Espacial Internacional é muito bom, tendo o espectador direito a um grande plano em que vemos os diferentes corredores e salas da estação e os efeitos especiais são bastante acima da média. O problema está na história feita de colagens dos filmes já mencionados, no enredo pouco credível (o monstro consegue desligar as comunicações da nave com a Terra, recorrer a utensílios e maquinaria complexa e deslizar convenientemente pelas condutas de ar) e nas personagens mal amanhadas: Rebecca Ferguson é tão certinha que irrita, Jake Gyllenhall é tão apagado que chateia e Ryan Reynolds tenta tanto ter piada que até dá dó. Melhores estão os secundários, particularmente o quase desconhecido Aryion Bakare na pele de um cientista paraplégico que cria um laço com a criatura.


Quem gosta de ficção científica pode dar um salto ao cinema para ver esta película, à sua responsabilidade. Quem não gosta, nem sequer deve atrever-se a sair de casa.    

Nota: 3 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Logan (2017)




Pela mão do realizador James Mangold chega-nos este «Logan», o último filme em que o actor Hugh Jackman encarna a personagem de Logan, o sobejamente conhecido Wolverine da saga X-Men. Este filme passa-se cerca de 12 anos no futuro, num mundo em que os mutantes pararam de nascer e os já existentes foram quase totalmente erradicados pelos humanos. Resta-nos, assim, Logan – envelhecido e com os seus poderes de cura mais limitados-, o Professor Charles Xavier e poucos mais mutantes que escaparam às garras dos seus destruidores.

Logan há muito deixou o seu nome para trás e ganha a vida como condutor de limusines enquanto tenta juntar dinheiro para sair do país com o Professor X (agora com crises de Alzheimer e uma mente instável capaz de semear o caos e destruição) quando o passado lhe bate à porta na figura de uma menina mutante com poderes muito semelhantes aos do Wolverine. A partir daqui Logan terá de levar Laura, a mutante, e o Professor Xavier numa viagem a um destino desconhecido e recheado de perigos.

«Logan» é, acima de tudo, um road movie, em que nos é permitido desfrutar das belas paisagens do interior americano. É também o filme mais brutal da saga, considerando que há decapitações, membros cortados e todo o tipo de fracturas e ferimentos. Como conclusão do universo X-Men (pouco provável, pois pode-se sempre pegar em qualquer outra das imensas personagens deste universo) é competente, embora não perfeito.

O ponto forte desta película é a interacção entre Logan, o Professor X e a menina (excelente interpretação da jovem Dafne Keen). Somos incapazes de esconder um sorriso sempre que vemos Logan tentar educar a selvática criança. Em contrapartida, os vilões deste filme são desinteressantes, pouco estando à altura de Wolverine e da sua pandilha. O maior vilão acaba por se traduzir nos demónios que habitam o próprio herói (e que se materializam a determinada altura do filme). O ritmo também não ajuda, com momentos em que pouco ou nada se passa e a duração do filme poderia, sem prejuízo para a história, ser reduzida em meia hora.

O tom sombrio e realista do filme, quase que a convocar um western, torna-o diferente dos outros filmes dos X-Men. Mas nem sempre isso joga a seu favor.

Nota: 3,5 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

quinta-feira, 23 de março de 2017

Kong: A Ilha da Caveira (2017)




Após uma ausência de doze anos (King Kong de Peter Jackson é de 2005), surge-nos novamente em cena o centenário gorila gigante King Kong, num novo filme passado na ilha que dá nome ao filme, a Ilha da Caveira. Em 1944, dois soldados, um americano e outro japonês, despenham-se numa estranha ilha desconhecida algures no Pacífico Sul. Enquanto se tentam matar um ao outro, surge-lhes literalmente à frente uma ameaça de enormes dimensões chamada Kong.

Passamos para 1973, após o término da Guerra do Vietname. Uma expedição encabeçada por um batedor (Tom Hiddleston), uma jornalista de guerra (Brie Larson) e um tenente-coronel veterano da Guerra do Vietname (Samuel L. Jackson), leva a cabo a missão de desbravar a Skull Island, último território desconhecido da humanidade e um mar de potencialidades para os descobridores. No entanto, cedo descobrem estar na presença de criaturas muito sui generis, entre as quais um gorila gigantesco chamado pela população local de Kong, que não estão dispostas a facilitar-lhes a vida. A partir do momento em que os helicópteros em que viajam até à ilha são abatidos por Kong, o caos está instalado. Os sobreviventes devem percorrer a ilha e chegar a porto seguro, ao mesmo tempo que se deparam com a fauna e flora daquela região misteriosa.

«Kong: A Ilha da Caveira» não é mais do que um filme de guerra, um pretexto para usar sequências de acção fabulosas (que o são, não haja dúvida), mas um desastre no que toca a tecer uma lógica para a sua própria história: por que razão existe um gorila de tão grandes dimensões numa terra onde quase tudo tem proporções normais é coisa que não sabemos. Igualmente desconhecemos a razão de haver uma tempestade permanente nas águas que envolvem a ilha. E o filme não se preocupa em explicar estas bizarrias. O tratamento dado às personagens não é muito melhor, sendo as mesmas unidimensionais e – à excepção do trio protagonista – carne para canhão das criaturas que habitam a ilha.

Este filme fica, assim, bastante aquém do «King Kong» de Peter Jackson. Não só lhe falta o glamour dos anos 30 (transpor a história para os anos 70 não foi uma boa ideia) e um certo romance emprestado à história por Jackson, como tenta recriar o ambiente de «Apocalypse Now» numa história de luta entre Homem e Natureza. 

Nota: 2,5 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

segunda-feira, 6 de março de 2017

Moonlight (2017)




«Moonlight» é sobre a história de Chiron, um jovem negro que é perseguido pelos seus colegas por ser diferente, sofrendo fortes episódios de bullying. Para tornar a sua situação ainda mais difícil, o pequeno Chiron não tem qualquer tipo de compreensão em casa, pois a sua mãe, Paula, está gravemente dependente de drogas e prostitui-se para sustentar o seu vício.


Chiron acaba por encontrar refúgio junto de um casal mais velho, que o acolhe na sua casa. A sua relação com Juan (Mahershala Ali) e Teresa (Janelle Monáe), vai se desenvolvendo ao longo do filme e Moonlight dá-nos a oportunidade de seguir toda a vida desta personagem, desde os momentos de desespero e de culpa que Chiron sente, ao episódio que constrói o clímax do filme: a aventura homossexual que tem lugar durante a puberdade com o seu amigo Kevin e que assombrará o protagonista para toda a sua vida.


«Moonlight» trata-se de uma história dura mas bastante realista e terá sido por essa razão que levou o prémio de Melhor Filme na cerimónia dos Óscares. Apesar de não o ser, o filme acaba por funcionar como um documentário que retrata de forma precisa uma situação que hoje se passa no sul dos Estados Unidos da América.


Chiron é confrontado com questões de identidade, em que a sua existência vai contra os padrões da sociedade masculina onde vive. Os temas complexos que o filme aborda de forma natural são expostos ao longo de toda a narrativa, com um grande foco nas personagens que os vivem.


Ao ver o filme, temos a sensação de mudar de corpo por umas horas e de acompanhar de perto o mundo na perspectiva de Chiron que, experiencia uma história tão profunda e repleta de sofrimento, que, mesmo sentados no conforto de uma cadeira de cinema, acabamos por partilhar o seu tormento e sentir os seus dilemas na pele, o que se deve essencialmente à intensidade com que nos são apresentadas as personagens.


Nota: 4 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

A Grande Muralha (2017)







O novo filme de Zhang Yimou passa-se na China do século XI e conta a história de dois mercenários europeus (Matt Damon e Pedro Pascal) que deparam acidentalmente com a Grande Muralha da China e o poderoso exército que nela reside. Rapidamente são integrados no exército e vêm a descobrir que o respectivo intuito não é repelir os mongóis mas combater uns monstros lendários que surgem a cada sessenta anos para espalhar o caos e o terror na região.

Este épico de fantasia é uma produção chinesa e americana e mostra um Zhang Yimou rendido aos estúdios de Hollywood, com toda a pirotecnia e efeitos especiais a que estes nos habituaram ao longo dos anos. Não há aqui nada que identifique o filme como sendo chinês, excepto o elenco fortemente constituído por actores e actrizes deste país. Mas claro que para ser um fenómeno de audiências era preciso um rosto familiar, e nada melhor do que Matt Damon para garantir o êxito do filme (manobra que provocou, aliás, grande polémica).

Matt damon não deslumbra, deixando que Pedro Pascal (que antes vimos em «A Guerra dos Tronos») seja o comic relief e o melhor que o filme tem para oferecer. De resto não há ninguém que se destaque, nem sequer o tão conhecido Willem Dafoe, aqui utilizado como secundário e com pouco tempo de ecrã. Da mesma forma, o CGI utilizado não é muito convincente, estando os já referidos monstros num patamar de igualdade com outras criaturas de outros filmes americanos. Há uma tentativa de criar romance entre a personagem de Damon e a comandante chinesa da Grande Muralha, mas que nunca se chega a concretizar.

Tudo é grandioso em «A Grande Muralha»: as paisagens, as resmas de monstros, o exército imponente e, sobretudo, as portentosas cenas de acção. No entanto, não há nada que surpreenda, pois este é um filme que poderia ter sido feito por um qualquer tarefeiro de Hollywood.

Nota: 2,5 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Manchester By The Sea (2016)






«Manchester by the Sea» é um dos filmes mais falados de 2016 e um favorito ao Óscar. Conta a história de Lee Chandler, um encarregado de limpeza, que tenta lidar com a morte do irmão após um ataque cardíaco, ao mesmo tempo que é encarregue de cuidar do seu sobrinho. Para isso, vai viver para Manchester-by-the-Sea, a pequena cidade do Massachusetts que dá nome ao filme.

Casey Affleck (irmão do mais conhecido Ben Affleck) lidera um elenco do qual também constam nomes como Michelle Williams (a ex-mulher), Kyle Chandler (o irmão), Lucas Hedges (o sobrinho) e Gretchen Mol (a cunhada). «Manchester by the Sea» foi escrito e realizado por Kenneth Lonergan, um nova-iorquino que começou como dramaturgo e escreveu os guiões de «Uma Questão de Nervos» e «Gangs de Nova Iorque». Estreou-se na realização em 2000 com «Podes Contar Comigo», tendo tido uma não muito produtiva carreira nesta faceta desde então. «Manchester by the Sea» é apenas o seu terceiro filme, sendo o sucessor de «Margaret», que saiu em 2011.

E o que dizer, então, deste filme? Não se pode dizer que seja mau, pois tem interpretações competentes de todo o elenco. Porém, o problema é que não se passa aqui nada de relevante. Limitamo-nos a acompanhar as deambulações físicas e mentais de Lee Chandler enquanto tenta ajudar o sobrinho rebelde a recuperar a vida que tinha. Por vezes lá surge um ou outro elemento de comédia, mas o suficiente apenas para nos fazer sorrir. É um filme um bocado mole e parado. Dificilmente poderá concorrer com propostas mais interessantes como «The Arrival» ou «Fences».

Nota: 3 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Fragmentado (2017)





«Fragmentado» («Split» no original) é o regresso do realizador M. Night Shyamalan à boa forma, depois de filmes sofríveis como «O Último Airbender», «Depois da Terra» e «A Visita». Não é um filme genial mas consegue estar ao nível de «O Sexto sentido» e «Protegido», os primeiros do realizador. A história analisa a vida de Kevin que tem 23 personalidades distintas e planeia trazer à tona uma 24.ª, mais forte e ameaçadora; para isso ele rapta três adolescentes com o intuito de as oferecer à 24.ª personalidade a que chama “a Besta”. No entanto, uma das adolescentes, Casey ( Anya Taylor-Joy que vimos antes em «A Bruxa»), com um passado de sofrimento – visto através de flashbacks constantes ao longo do filme – consegue criar um laço com uma das personalidades do seu captor, um menino de 9 anos chamado Hedwig, pretendendo levá-lo a libertá-la. Casey consegue compreender a dor de Kevin e dos seus inúmeros heterónimos, e, em última instância, isso vai ser fulcral para a sua sobrevivência.

Por outro lado, assistimos às visitas de Kevin à sua psicóloga (uma sublime Betty Buckley), onde nos é explicada a desordem de que Kevin padece e algumas características das suas diferentes personalidades. James McAvoy (o Professor Xavier de «X-Men: O Início» e «X-Men: Dias de um Futuro Esquecido»), tem aqui a interpretação da sua vida, num papel difícil e rico em subtilezas. O actor inglês consegue desdobrar-se em várias personagens, fazendo-o sem grande esforço apenas com uma súbita mudança de expressão facial e voz.  


De resto, o filme peca por ser muito parado na 1ª parte e por tratar a desordem de personalidades múltiplas com algum simplismo, para conveniência da história. No cômputo geral é um bom filme capaz de nos suscitar a curiosidade e de nos pôr a pensar muito para lá dos créditos finais.    

Nota: 3,5 em 5.  

Desejo-vos muitos e bons filmes. 

domingo, 15 de janeiro de 2017

A Vida de Pi (2012)



Pi, em termos matemáticos, representa a relação entre o perímetro de uma circunferência e o seu diâmetro e é, habitualmente, associado ao valor de 3,14. No entanto - e matemática à parte - Ang Lee apresenta-nos um poema neste seu novo trabalho cinematográfico: «A Vida de Pi» é um colosso visual, sonoro e narrativo, um festim para os sentidos e um regalo para a alma. O realizador de Taiwan já tinha mostrado a sua fibra em títulos como «O Segredo de Brokeback Mountain» ou «O Tigre e o Dragão», mas, desta vez, Ang Lee deu tudo por tudo e fabricou uma obra-prima a partir do best-seller de Yann Martel.

Com ou sem 3-D, assistimos a uma experiência cinematográfica ímpar. Não é de espantar que este objecto artístico tenha ganho quatro das categorias para as quais estava nomeado nos Óscares: melhor realizador (para Ang Lee), melhor fotografia, melhores efeitos visuais e melhor banda sonora original. E não seria injusto acrescentar o Óscar de melhor filme.

Piscine Patel, ou simplesmente Pi, é um jovem que vive com a família (os pais e um irmão), detentora de um jardim zoológico, numa região francesa da Índia. À medida que vai crescendo, Pi aprende – nem sempre da maneira mais agradável - que, no reino animal, nada é um mar de rosas, ensinamentos que o pai lhe inculca desde cedo e que se vão revelar úteis na odisseia que espera o jovem. Chega então o dia em que o patriarca anuncia ao resto da família que a respectiva situação financeira não está famosa e terão de se mudar para o Canadá com os animais do zoo, em busca de uma nova vida. Porém, a meio da viagem de barco, o inesperado acontece e há um naufrágio do qual se salvam, basicamente, só Pi e um tigre de Bengala feroz chamado Richard Parker (o porquê do nome do tigre é hilariante). Durante uma boa parte do filme assistimos à relação entre o adolescente e o animal num bote salva vidas, mas quem julga que há aqui laços de ternura entre homem/besta, desengane-se: um tigre é um tigre, na selva ou no mar.

A fotografia é indubitavelmente assombrosa, com um leque de cores rico e um contraste bem realçado. Suraj Sharma, o actor que dá vida a Pi, revela-se brilhante na alternância entre a candura juvenil e a bravura a que é obrigado a recorrer, dada a situação. O tigre é um triunfo dos efeitos gerados por computador e uma mostra do quão longe se consegue chegar actualmente na recriação da realidade; poucas são as vezes em que se nota que o mesmo é digital. O final do filme oferece uma revelação que lhe confere um maior realismo mas que em nada estraga a beleza poética do que vimos antes. Em suma, «A Vida de Pi» é um tratado sobre a fé e crença humanas, tanto em Deus (abordado sob o ponto de vista de várias religiões) como nas nossas próprias forças interiores.

Nota: 4,5/5

Desejo-vos muitos e bons filmes. 

A Gaiola Dourada (2013)




A estreia de Ruben Alves na realização, «A Gaiola Dourada», é, já desde há algum tempo, um fenómeno de audiências, tanto em França como em Portugal, tendo superado largamente as expectativas da equipa responsável pela sua concretização. E trata-se, efectivamente, de uma bela surpresa, num panorama cinematográfico repleto de histórias de super-heróis e demais blockbusters de orçamentos incomensuráveis, efeitos portentosos e acção trepidante (cada vez mais cansativos).

E todo o hype em torno do filme se justifica plenamente: com poucos recursos mas munido de uma narrativa emocional com excelentes momentos de sátira a um povo e a um grupo em específico – os portugueses emigrados em França e as respectivas proles, Ruben Alves conta-nos a história de um casal emigrante (Joaquim de Almeida e Rita Blanco), ele pedreiro e ela porteira, emigrados há cerca de 30 anos em Paris, cuja rotina pouco ou nada mudou desde que emigraram, até ao dia em que herdam uma quinta em Portugal, na zona do Douro. A partir daí, o casal é confrontado com a dúvida entre regressar à terra natal para administrar a quinta ou continuar a viver a rotina diária junto daqueles (filhos, irmãos e patrões) que já não conseguem abdicar dos seus serviços.

Ruben Alves desenha aqui um retrato magnífico do que é ser português numa comunidade estranha: o fado, o futebol, a subserviência às entidades patronais, a mistura de língua francesa e portuguesa no decurso de uma conversa (com a proverbial predominância do calão em português) são tiques que não passam ao lado do realizador, mostrando que este é um conhecedor profundo da realidade que aborda, ou não fosse ele próprio luso descendente. Temos aqui traçado, inúmeras vezes de forma caricatural mas sempre com um pé assente na realidade, o perfil do típico casal de emigrantes e os confrontos geracionais com os respectivos descendentes derivados do facto de estes terem já nascido em França num contexto social mais favorável, ao contrário dos pais, subservientes e arreigados ao país de origem.

Ruben Alves é exímio na maneira como funde comédia de linguagem e situação (os mexericos e tentativas desesperadas de manipular o casal protagonista para permanecer em Paris) com momentos de intensidade dramática (os complexos de inferioridade que são transmitidos de pais para filhos, bem patentes na relação da filha do casal com o filho dos patrões do pai). Rita Blanco e Joaquim de Almeida mostram o quão bons actores são, enquanto que o restante elenco parece ter sido escolhido a dedo para enaltecer a história (Maria Vieira está fenomenal como a empregada manhosa e coscuvilheira). Apesar de ser um filme leve, retrata bem a realidade sócio-económica de um grupo populacional muitas vezes tratado de forma injusta quer no país de origem quer no estrangeiro.

Nota: 4/5


Desejo-vos muitos e bons filmes.    

sábado, 14 de janeiro de 2017

Rogue One: Uma História de Star Wars (2016)



Desde que a Disney adquiriu a Lucasfilm, tem prometido ao mundo que os novos filmes do universo Star Wars não se iriam cingir às trilogias oficiais. Neste contexto surge, então, o primeiro filme não enquadrado numa trilogia criada ou em curso (“The Force Awakens” do ano passado é o primeiro episódio de uma nova trilogia que vai do ep. VII ao IX). “Rogue One” relata os acontecimentos imediatamente anteriores à história de “Uma Nova Esperança”, o ep. IV, e o primeiro filme alguma vez a ser feito desta saga, e que se traduzem no esforço realizado por uma equipa de rebeldes para capturar os planos da famosa Estrela da Morte de forma a destruir esta estação espacial arrasadora de planetas.

Seria de esperar, portanto, um episódio solto, sem grandes amarras aos outros filmes da saga. Mas “Rogue One” está longe de ser um filme isolado: não só a narrativa se prende à de “Uma Nova Esperança” como há um sem número de referências a vários dos filmes do Star Wars (caras conhecidas que aparecem e, por vezes, se demoram, durante o percurso do filme. A maior das referências e – convenhamos, a que os fãs mais desejavam – é a aparição de Darth Vader, o vilão por excelência da saga. Mas, para além deste, temos a própria aparição da Estrela da Morte como um espectro fatal a patrulhar as galáxias e até do Grand Moff Tarkin, almirante que domina uma boa parte de “Uma Nova Esperança”. Neste caso, dado que o actor que dava corpo a esta personagem já faleceu há cerca de 20 anos, o realizador Gareth Edwards (Monsters - Zona Interdita, Godzilla) optou por digitalizar o actor tal como aparecia no primeiro filme e pô-lo a interagir com personagens de carne e osso. O mesmo foi feito no final do filme com Carrie Fisher, a princesa Leia, que após digitalização de rosto e corpo nos surge numa versão rejuvenescida, igual à imagem que tinha no ep. IV.

Quantos aos novos actores, todos cumprem bem os seus papéis, ajudando sem dificuldade a transportar-nos para o mundo de Star Wars de onde só saímos após os créditos finais (graças à potente banda sonora que, apesar de não ser da partitura do célebre John Williams, está bem entregue a Michael Giacchino). Particularmente bem está a personagem de Ben Mendelsohn, o carismático Director Orson Krennic, a mostrar o porquê de ser temido por uns e odiado por outros. Este é um actor veterano com créditos firmados mas a ter em conta em futuros trabalhos. É verdade que as personagens poderiam ter sido mais profundadas como se tem argumentado, mas num só filme com tanta coisa por contar, algo teria de ficar para trás. De resto, o universo Star Wars nunca primou por ter personagens ultra dimensionais (alguém conhece os antecedentes de Han Solo?)

A primeira parte do filme pode causar alguma confusão ao espectador porque a acção está constantemente a saltar de planeta para planeta mas depressa se apanha o fio à meada. O final pode não ser do agrado de todos, mas visto que as novas personagens nunca mais são referidas em filmes posteriores, era de esperar que todas perecessem. É um final lógico e longe de empregar a solução tipicamente Disney em que tudo acaba sempre bem (o final de “O Despertar da Força” com a rapariguinha aprendiz de Jedi a derrotar o vilão todo poderoso é ridículo e deixou um amargo de boca bem maior). 

E depois temos aquela cena final, quase antes dos créditos em que vemos Darth Vader em topo de forma a dar cabo dos rebeldes, encurralados, só com a ajuda do seu sabre de luz e de uns quantos truques que a Força lhe ensinou. É a cereja no topo do bolo para qualquer fã que se preze!

Nota: 5/5


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O Hobbit: Uma Viagem Inesperada (2012)




E finalmente chega-nos o tão aguardado filme baseado no primeiro livro de J.R.R. Tolkien sobre a Terra Média. «O Hobbit: Uma Viagem Inesperada» é a brilhante adaptação cinematográfica das aventuras de Bilbo Baggins na terra da fantasia pela mão de Peter Jackson, o mago que tão bem soube transpor a trilogia de «O Senhor dos Anéis» para o cinema. E Peter Jackson mantém o padrão de qualidade, com uma história centrada nos acontecimentos que precedem a demanda do anel e que, de várias formas, darão origem à mesma. Nos próximos dois anos, mais dois filmes virão, dando continuação à história narrada neste primeiro tomo. Se na trilogia anterior havia o problema de faltar espaço para incluir todo o conteúdo dos livros, o desafio passa, agora, por ampliar a história de um único livro de modo a conseguir realizar três filmes em torno do mesmo. Nos próximos dois anos saberemos se a jornada será levada a bom porto.

Debruçando-nos, para já, sobre este primeiro filme, poderemos afirmar que até aqui está tudo bem: que magnífico é voltar a ver os lindíssimos cenários naturais da Nova Zelândia e as paisagens ora angelicais ora medonhas, reencontrar algumas das personagens que já fazem parte do imaginário popular (os feiticeiros Gandalf e Saruman, Lord Elrond, Lady Galadriel e sobretudo a criatura Gollum) e conhecer um pouco mais deste mundo tão complexo e intrincado criado pela mente de um escritor tão prolífico.

Neste filme, passado 60 anos antes dos eventos de «O Senhor dos Anéis», Gandalf chega ao Shire (país dos hobbits) acompanhado por treze peculiares anões e tenta convencer Bilbo Baggins a juntar-se ao grupo para uma demanda rumo à distante Montanha Solitária, lugar repleto de riquezas, outrora residência dos anões, e que foi ocupado por Smaug, um dragão gigante particularmente tenebroso, adormecido há séculos no interior da montanha. A intenção dos anões é recuperar o que é seu e derrotar o poderoso Smaug. Apesar de grandemente relutante a início, Bilbo cede e embarca na jornada que irá mudar para sempre a sua vida.    

Apesar de «O Hobbit» não se tratar de uma história tão negra como «O Senhor dos Anéis», também dificilmente pode ser considerada infantil (ao contrário de «As Crónicas de Nárnia», por exemplo), pois contém demasiado “perfume de trevas”. Há criaturas grotescas e sinistras à espreita em cada esquina, desde um obtuso grupo de Trolls até um Orc Pálido montado num Warg com o dobro do tamanho de um lobo, passando por um Necromante, um espectro que ameaça voltar ao mundo dos vivos.

Martin Freeman revelou-se uma excelente escolha para interpretar o hobbit Bilbo, na medida em que soube conferir à personagem o misto de nervosismo, manha e orgulho que esta requer. Bilbo é um hobbit diferente de Frodo, mais engraçado e curioso, mas igualmente corajoso e astuto em situações adversas, como podemos verificar na cena da gruta em que joga às adivinhas com Gollum – de resto, a melhor cena de toda a saga. 

As críticas vão-se dividir em relação a esta nova trilogia: há quem ache que Hollywood está a tentar explorar todo o filão de ouro à sua disposição (o que não deixa de ser verdade), mas há que lembrar que foi aqui que tudo começou... com uma viagem inesperada.

Nota: 4/5


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

O Hobbit: A Desolação de Smaug (2013)




Mais uma quadra natalícia, mais um filme “made in” Terra Média (também conhecida como Nova Zelândia). «O Hobbit: A Desolação de Smaug» é o segundo tomo das aventuras do pequeno hobbit Bilbo Baggins, juntamente com o feiticeiro Gandalf e treze ferozes anões liderados pelo carismático Thorin Escudo-de-Carvalho. Por entre as deliciosas paisagens imaginadas por J.R.R. Tolkien e trazidas à vida por Peter Jackson, esta irmandade prossegue a sua jornada em direcção ao reino de Erebor, a Montanha Solitária tomada várias décadas antes por um tenebroso dragão gigante chamado Smaug.

«O Hobbit: A Desolação de Smaug» entretém de forma competente e tem excelentes efeitos especiais, mas apresenta um enredo cheio de buracos – um filme deve obedecer à lógica que impõe aos espectadores e neste filme, em particular nas cenas com o dragão, essa mesma lógica é constantemente distorcida (se Smaug consegue detectar Bilbo através do olfacto, mesmo quando este está invisível, porque razão não consegue, mais tarde, encontrá-lo e ao grupo de anões que a ele se juntam na montanha?) No final, ficamos com a ideia de que o dragão é mais presunçoso do que perigoso (e é verdade que fala pelos cotovelos!) e nem a expectativa de o mesmo poder vir a dizimar a Cidade do Lago no próximo filme nos faz estremecer. Por outro lado, a teimosia em querer ligar esta trilogia à de «O Senhor dos Anéis» desvaloriza a narrativa central.

Em suma, este capítulo possui vários dos mesmos trunfos que o filme anterior e a trilogia de «O Senhor dos Anéis» tinham, mas obedece cada vez mais à lógica de um jogo de computador em que os heróis saltam de um nível para o seguinte. Apesar de alguns bons momentos na parte da representação, não houve muita preocupação em contar uma história do ponto de vista das personagens (até Bilbo é relegado para segundo plano em boa parte do filme). As cenas de acção impossível sucedem-se (a da matança de orcs no rio, dentro de barris, é o melhor exemplo) e fazem com que todos os vilões pareçam anedóticos, tal é a quantidade de vezes em que são vencidos. Peter Jackson está aos poucos a aproximar-se de George Lucas na realização de épicos de fantasia, e isso não augura nada de bom... 

Nota: 3/5


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

Godzilla (2014)




Gareth Edwards trouxe-nos um filme de monstros invulgar com «Monsters – Zona Interdita» em que, mais do que os efeitos especiais – poucos mas bons – e a destruição massiva, contava a relação entre o casal protagonista e a sua jornada por dentro de um mundo dominado pelo medo de a qualquer momento virem a deparar com "algo". Com este objecto cinematográfico, o realizador conseguiu conquistar o apreço do público e dos críticos, o que lhe permitiu entrar em Hollywood pela porta da frente: foi-lhe confiada a árdua tarefa de revitalizar um dos monstros mais emblemáticos dos últimos 60 anos, Gojira, ou como é conhecido no Ocidente, Godzilla.

A abordagem que o realizador faz da história do monstro produzido por meio de detritos radioactivos é original e afasta-se – felizmente – do filme quase desastroso que Roland Emmerich fez sobre a criatura em 98. No entanto, o «Godzilla» de Edwards acaba por ser uma relativa desilusão face àquilo que esperávamos de alguém que cresceu a ver filmes de monstros e que se estreou de forma tão auspiciosa. Apesar das boas intenções, esta não é ainda a homenagem que um dos monstros mais conhecidos do mundo merece.

«Godzilla» tem um excelente elenco, com o icónico Bryan Cranston  (da famosa série "Breaking Bad") num dos papéis principais e Aaron Taylor-Johnson, que já mostrou noutros filmes (especialmente no deliciosamente pérfido «Kick-Ass») as suas qualidades como actor, a protagonizá-lo. Contudo, é precisamente quando este actor tem de carregar sozinho o filme às costas que notamos o peso que lhe foi colocado: Taylor-Johnson limita-se a cumprir a sua função, não marcando pela positiva. Juliette Binoche tem uma breve aparição, mas o seu papel é curto demais para merecer especial menção. Ken Watanabe é um cientista à deriva com uma crise existencial sobre o homem versus natureza e David Strathairn também não tem um papel à altura do seu talento.

Além do colossal Godzilla – maior aqui do que em qualquer filme feito anteriormente – que recupera, em grande parte, a fisionomia dos filmes nipónicos, existem outras criaturas, apelidadas de MUTO, que são os principais criadores de problemas nesta história. O maior problema na integração destas criaturas medonhas é o facto de relegarem o monstro principal para um papel quase secundário, um agente que tem de manter o equilíbrio natural das coisas.

Não faltam os brilhantes efeitos especiais, as lutas titânicas e a destruição de edifícios. Até somos contemplados com uma muito eficaz visão de um salto efectuado por paraquedistas – e este é, efectivamente, o momento de maior tensão do filme, muito graças à banda sonora que o acompanha.

Curiosamente, a narrativa parece basear-se, em parte, numa certa série de animação dos anos 80 em que Godzilla tinha como missão lutar com monstros malignos para salvar a humanidade e tinha um parente chamado Godzooky...

«Godzilla» vê-se com agrado mas fica a sensação de faltar qualquer coisa para termos uma verdadeira obra prima.

Nota: 3,5/5


Desejo-vos muitos e bons filmes.

Gravidade (2013)





Alfonso Cuarón traz-nos um prodígio técnico com «Gravidade»: visualmente este é um dos melhores filmes alguma vez estreados no cinema (sobretudo em 3D e – não tenho dúvidas – em formato IMAX) e um que provavelmente vai redefinir os paradigmas do cinema passado no espaço dos próximos anos. Cuarón consegue a proeza de iniciar o filme com um plano de quase quinze minutos, sem um único corte, em que vemos o telescópio espacial Hubble a orbitar a Terra e, em torno deste, George Clooney a flutuar incessantemente – qual satélite - enquanto conta histórias à base na Terra (Houston, pois claro) e Sandra Bullock agarrada a um braço do telescópio a fazer uma reparação. Clooney é um astronauta veterano em vias de completar a sua última missão, ao passo que Bullock é uma cientista na sua primeira jornada espacial.

O resto do filme segue esta tendência para conter planos duradouros (na linha do que o realizador fez no seu filme anterior «Os Filhos do Homem»), giratórios, como se o próprio espectador fosse posto à deriva no espaço. Os encantos do filme, porém, terminam na vertente técnica e na beleza da Terra vista do espaço. A história é corriqueira, sabendo-se já que os dois astronautas ficam à deriva no espaço com poucas possibilidades de salvação. Ao cabo de uma hora, torna-se maçador ver os actores escapar de um perigo para logo se depararem com outro - ainda por cima, todos eles altamente improváveis, senão mesmo impossíveis (fazer uma caminhada no espaço, neste filme, equivale a dar um passeio no jardim de casa). Ainda por cima, a inclusão de alguns momentos espirituais fazem com que o filme se torne mais recheado de clichés. E este é um filme pejado de clichés! Como se tal não bastasse, (SPOILER) George Clooney sai de cena demasiado cedo, deixando o filme às costas de Sandra Bullock. Felizmente a actriz (que tem aqui o seu melhor papel desde o longínquo «A Rede») consegue tornar credível a sua personagem e incutir-nos o medo de estar só em pleno espaço, providenciando até um dos momentos mais divertidos do filme, em que, julgando-se perdida, desata a ladrar em resposta a um cão que ouve no rádio da Estação Espacial Chinesa onde, a dada altura, consegue chegar.

Efeitos visuais e sonoros vanguardistas mas, no todo, não é mais do que um objecto experimentalista ambicioso.

Nota: 3,5/5


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

A Origem (2010)




Excelente thriller psicológico de Christopher Nolan, um dos realizadores mais imaginativos no que toca à construção de blockbusters cerebrais. Depois de nos trazer aquele que é considerado um dos melhores filmes da saga do Batman, «O Cavaleiro das Trevas», Nolan surge com uma nova proposta: «A Origem» é um filme grandioso, cheio de efeitos especiais suculentos - cenas como a cidade a dobrar-se, as lutas com ausência de gravidade e os prédios a ruir à beira mar são disso exemplo - sem que, no entanto, estes ofusquem a história ou as emoções das personagens.

Encontramos aqui ecos de outros filmes que também abordam a dicotomia realidade/sonho como é o caso de «Matrix», «O Despertar da Mente», ou o «eXistenZ» de David Cronenberg; e até há um certo paralelismo com os filmes do James Bond nas cenas de acção (sobretudo as perseguições na neve). «A Origem» tem, contudo, um enredo próprio bastante imaginativo. Não é um filme fácil e, portanto, necessita da máxima atenção do espectador para compreender o que se está a passar e por que razão somos catapultados para diferentes níveis de sonho cada vez mais profundos e com cenários diversificados.

Todo o elenco é bom, mas o destaque vai para Leonardo DiCaprio no papel de hábil manipulador de sonhos e Marion Cottilard enquanto projecção perigosa do subconsciente da personagem de DiCaprio. É interessante acompanhar os acontecimentos que marcaram a relação destas duas personagens à medida que o filme se vai desenrolando diante dos nossos olhos. Este magnífico par consegue tornar um filme bombástico numa obra intimista com representações assombrosas.

Nota: 5/5

Desejo-vos muitos e bons filmes. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A Mulher de Negro (2012)


A lendária produtora Hammer, responsável por vários clássicos de terror, traz-nos «A Mulher de Negro» um muito interessante filme de terror psicológico em que impera a atmosfera densa (e tensa) e o negrume da alma humana. Trata-se de um objecto que apela mais à psique do espectador do que aos efeitos especiais de encher o olho (na verdade estes contam-se pelos dedos).  


A história acompanha o jovem advogado Arthur Kipps (Daniel Radcliffe) na sua viagem a uma pequena aldeia no noroeste da Inglaterra para negociar a venda de uma mansão recentemente abandonada, situada numa charneca próxima repleta de pântanos sinistros e nevoeiros de cortar à faca. É evidente que cedo vem a descobrir que a velha mansão está assombrada pelo espírito de uma mulher vestida de negro cuja aparição traz o infortúnio junto das crianças da aldeia.

O início do filme é particularmente eficaz, com a visão do suicídio bem sincronizado de três meninas da aldeia, como se de uma espécie de jogo se tratasse. Infelizmente, o final deixa algo a desejar, pois deixa para trás os acontecimentos dramáticos que afectam os aldeões em favor da “redenção” do protagonista.

Daniel Radcliffe - o eterno Harry Potter - não se sai mal na pele do jovem advogado, embora este papel não seja particularmente difícil de representar e, como já aqui foi referido, não se afasta demasiado do universo de Harry Potter, pelo que o actor calcorreia terreno familiar. Ciarán Hinds é mais eficaz no papel de um aldeão instruído que tenta desmistificar os fenómenos paranormais através da razão.

Nota máxima para a recriação de época (princípio do séc. XX), a decoração da mansão assombrada (especialmente o sinistro quarto repleto de brinquedos de corda) e as paisagens alucinantes da charneca. Altamente recomendável.

Nota: 4/5 

Desejo-vos muitos e bons filmes.