Alfonso Cuarón traz-nos um prodígio
técnico com «Gravidade»: visualmente este é um dos melhores filmes alguma vez estreados
no cinema (sobretudo em 3D e – não tenho dúvidas – em formato IMAX ) e um
que provavelmente vai redefinir os paradigmas do cinema passado no espaço dos
próximos anos. Cuarón consegue a proeza de iniciar o filme com um plano de quase
quinze minutos, sem um único corte, em que vemos o telescópio espacial Hubble a
orbitar a Terra e, em torno deste, George Clooney a flutuar incessantemente –
qual satélite - enquanto conta histórias à base na Terra (Houston, pois claro)
e Sandra Bullock agarrada a um braço do telescópio a fazer uma reparação. Clooney
é um astronauta veterano em vias de completar a sua última missão, ao passo que
Bullock é uma cientista na sua primeira jornada espacial.
O resto do filme segue esta
tendência para conter planos duradouros (na linha do que o realizador fez no
seu filme anterior «Os Filhos do Homem»), giratórios, como se o próprio
espectador fosse posto à deriva no espaço. Os encantos do filme, porém,
terminam na vertente técnica e na beleza da Terra vista do espaço. A história é
corriqueira, sabendo-se já que os dois astronautas ficam à deriva no espaço com
poucas possibilidades de salvação. Ao cabo de uma hora, torna-se maçador ver os
actores escapar de um perigo para logo se depararem com outro - ainda por cima,
todos eles altamente improváveis, senão mesmo impossíveis (fazer uma caminhada
no espaço, neste filme, equivale a dar um passeio no jardim de casa). Ainda por
cima, a inclusão de alguns momentos espirituais fazem com que o filme se torne
mais recheado de clichés. E este é um filme pejado de clichés! Como se tal não
bastasse, (SPOILER) George Clooney sai de cena demasiado cedo, deixando o filme
às costas de Sandra Bullock. Felizmente a actriz (que tem aqui o seu melhor
papel desde o longínquo «A Rede») consegue tornar credível a sua personagem e
incutir-nos o medo de estar só em pleno espaço, providenciando até um dos
momentos mais divertidos do filme, em que, julgando-se perdida, desata a ladrar
em resposta a um cão que ouve no rádio da Estação Espacial Chinesa onde, a dada
altura, consegue chegar.
Efeitos visuais e sonoros
vanguardistas mas, no todo, não é mais do que um objecto experimentalista ambicioso.
Desejo-vos muitos e bons filmes.
Sem comentários:
Enviar um comentário