quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Gravidade (2013)





Alfonso Cuarón traz-nos um prodígio técnico com «Gravidade»: visualmente este é um dos melhores filmes alguma vez estreados no cinema (sobretudo em 3D e – não tenho dúvidas – em formato IMAX) e um que provavelmente vai redefinir os paradigmas do cinema passado no espaço dos próximos anos. Cuarón consegue a proeza de iniciar o filme com um plano de quase quinze minutos, sem um único corte, em que vemos o telescópio espacial Hubble a orbitar a Terra e, em torno deste, George Clooney a flutuar incessantemente – qual satélite - enquanto conta histórias à base na Terra (Houston, pois claro) e Sandra Bullock agarrada a um braço do telescópio a fazer uma reparação. Clooney é um astronauta veterano em vias de completar a sua última missão, ao passo que Bullock é uma cientista na sua primeira jornada espacial.

O resto do filme segue esta tendência para conter planos duradouros (na linha do que o realizador fez no seu filme anterior «Os Filhos do Homem»), giratórios, como se o próprio espectador fosse posto à deriva no espaço. Os encantos do filme, porém, terminam na vertente técnica e na beleza da Terra vista do espaço. A história é corriqueira, sabendo-se já que os dois astronautas ficam à deriva no espaço com poucas possibilidades de salvação. Ao cabo de uma hora, torna-se maçador ver os actores escapar de um perigo para logo se depararem com outro - ainda por cima, todos eles altamente improváveis, senão mesmo impossíveis (fazer uma caminhada no espaço, neste filme, equivale a dar um passeio no jardim de casa). Ainda por cima, a inclusão de alguns momentos espirituais fazem com que o filme se torne mais recheado de clichés. E este é um filme pejado de clichés! Como se tal não bastasse, (SPOILER) George Clooney sai de cena demasiado cedo, deixando o filme às costas de Sandra Bullock. Felizmente a actriz (que tem aqui o seu melhor papel desde o longínquo «A Rede») consegue tornar credível a sua personagem e incutir-nos o medo de estar só em pleno espaço, providenciando até um dos momentos mais divertidos do filme, em que, julgando-se perdida, desata a ladrar em resposta a um cão que ouve no rádio da Estação Espacial Chinesa onde, a dada altura, consegue chegar.

Efeitos visuais e sonoros vanguardistas mas, no todo, não é mais do que um objecto experimentalista ambicioso.

Nota: 3,5/5


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

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