terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A Forma da Água (2018)

Doug Jones, Vanessa Taylor, and Sally Hawkins in The Shape of Water (2017)


Antes de mais, «A Forma da Água» é um belíssimo filme para os amantes da sétima arte em geral e do género de fantasia romântica em particular. Guillermo del Toro volta a mostrar a sua garra num género que aborda como ninguém desde que surgiu em cena em Hollywood no limiar dos anos 90.

Com uma fotografia a fazer lembrar «A Cidade das Crianças Perdidas» de Jean-Pierre Jeunet e uma banda sonora recortada de «O Fabuloso Destino de Amélie» do mesmo realizador, este filme conta a improvável história de uma mulher – Elisa Esposito (brilhantemente interpretada por Sally Hawkins) – incapaz de falar devido a um acidente na infância, que vem a travar conhecimento com um anfíbio humanóide (retratado pelo sempre excelente Doug Jones) pescado na América do Sul e aprisionado nas instalações de um centro de pesquisa norte-americano. Rapidamente começam a entender-se por meio de linguagem gestual e corporal até ao dia em que Elisa resolve tentar libertar o ser peculiar para o devolver ao seu meio ambiente.

Não se pode partir para este filme com um olho crítico e realista, pois há imensas cenas que desafiam os limites do absurdo (o quarto submerso onde Elisa e o anfíbio se relacionam mais intimamente é o melhor exemplo). Mais vale deixarmo-nos levar pela bela narrativa fantasista – onde até cabe um número musical entre os protagonistas – e deliciarmo-nos com os pormenores que nos salpicam os sentidos.

É de realçar também o papel de Michael Shannon que, apesar de ter nascido para fazer de vilão, não chega a ser verdadeiramente um monstro, trata-se sim de uma pessoa levada a agir por necessidade e desespero, ao contrário do infame capitão Vidal de «O Labirinto do Fauno» que era um puro sádico.

No cômputo geral, «A Forma da Água» é um bom filme, mas não se sobrepõe a «O Labirinto do Fauno» que continua a ser a obra-prima do realizador mexicano devido ao facto de o espectador poder acompanhar esse filme do ponto de vista da crua realidade ou da negra fantasia. Em «A Forma da Água» a realidade está suspensa e a esperança mora ao fundo da rua. Altamente recomendável para quem gosta de sonhos agridoces.

Nota: 4 em 5.

Desejo-vos muitos e bons filmes.


segunda-feira, 12 de junho de 2017

A Múmia (2017)



Tom Cruise tenta lançar um novo franchise com este filme, tal como aconteceu com «Missão Impossível» e «Jack Reacher». O problema é que «A Múmia» está a milhas de distância de ser um bom filme e, muito menos, o princípio de algo surpreendente (ao que parece, a Universal está a planear a saída de um conjunto de filmes com o Drácula, o Lobisomem, o Homem Invisível e a Criatura da Lagoa Negra, entre outros). Para começar, a história teria de se levar um pouco mais a sério, coisa que não acontece. Depois, teríamos de ter personagens com as quais realmente nos importássemos, o que não é o caso. A única coisa que podemos fazer é olhar para o aspecto aventureiro do filme e regalarmo-nos com algumas cenas de encher o olho – o avião militar em queda livre com os seus ocupantes no interior em gravidade zero e as explosões a que o nosso herói foge milagrosamente.

A história começa há séculos atrás quando uma princesa egípcia, destinada a ser a primeira rainha do Antigo Egipto, vê esse direito ser-lhe retirado quando o seu pai tem um filho varão de outra mulher. Assim, a princesa Ahmanet opta por fazer um pacto com o deus do Mal Set, mata o pai, a madrasta e o irmão bebé e quase consegue fazer com que o deus Set reencarne no corpo do seu amante, mas é apanhada antes de sacrificar o amante. Sendo enterrada vida, é encontrada séculos mais tarde por Nick Morton a quem escolhe para ser o novo receptáculo de Set, depois de voltar à vida. Já de si não é uma premissa genial mas o rumo que a história toma, sem nunca saber se quer ser um filme de terror, um filme de acção ou uma comédia, acaba por torná-lo desinspirado em todas as frentes.

Tom Cruise continua igual a si próprio, não convencendo nem deslumbrando. Os secundários, Annabelle Wallis, Jake Johnson (este a proporcionar um momento à «Lobisomem Americano em Londres») e Russell Crowe estão um pouco melhor, mas ainda assim, limitam-se a cumprir os seus papéis, sem grande empenho. Sofia Boutella, a princesa Ahmanet, consegue ser assustadora, o que é bom num filme que pretende ser arrepiante.

Este «A Múmia», apesar de contar com um dos mais estimados actores do mundo, fica abaixo do filme de 1999 com o mesmo nome encabeçado por  Brendan Fraser e Rachel Weisz.

Nota: 2,5 em 5.

Desejo-vos muitos e bons filmes.


terça-feira, 30 de maio de 2017

Piratas das Caraíbas: Homens Mortos não Contam Histórias (2017)






Este é o 5º capítulo das aventuras do inebriado Capitão Jack Sparrow. E tem tudo o que os anteriores tinham: aventura desbragada, humor descontrolado e umas pitadas de romance. O excelente Johnny Depp volta a marcar presença neste filme, ou não fosse ele a estrela desta saga. A acompanhá-lo estão duas caras novas, Brenton Thwaites e Kaya Scodelario, o casal romântico de serviço. De volta está o magnífico Geoffrey Rush com o seu Barbossa e até Orlando Bloom e Keira Knightley aparecem, nem que seja para dizer olá. E qual cereja no topo do bolo, Javier Bardem e o seu temível Capitão Salazar: Bardem com os seus cabelos a flutuar languidamente ao vento e crânio rachado é o terror dos sete mares e a peça sobrenatural que caracteriza todos os filmes da saga «Piratas das Caraíbas».

Desta vez, Jack Sparrow desperta, acidentalmente, uma antiga maldição, sob forma do Capitão Salazar e a sua tripulação fantasma, que logo trata de se pôr no encalço de Sparrow para saldar uma dívida antiga. A única esperança que este tem é de conseguir encontrar o lendário Tridente de Poseidon, um artefacto capaz de destruir toda e qualquer maldição. Para isso, contará com a ajuda de Henry Turner e Carina Smyth (Thwaites e Scodelario, respectivamente).

Que mais se pode dizer deste filme que não tenha sido já dito dos anteriores? É divertido, escapista, tresloucado e muito exagerado (a cena do banco a ser arrastado pelas ruas da cidade é disso um claro exemplo). Quem gosta deste universo, vai encontrar aqui muito com que se banquetear, quem nunca se deixou apadrinhar por estas aventuras, não vai tornar-se fã a partir de agora.

Aqui entre nós, o filme não é bom nem é mau. Acaba por ser mais do mesmo. A saga começa, por fim, a revelar sinais de cansaço, o que é evidente no facto de as receitas de bilheteira terem ficado abaixo das dos filmes anteriores no fim-de-semana de estreia. Aparentemente este é o último tomo de «Piratas das Caraíbas», o que, a ser verdade, permite que a saga feche ainda com chave de ouro.

Nota: 3 em 5.

Desejo-vos muitos e bons filmes. 

sábado, 27 de maio de 2017

Rei Artur: A Lenda da Espada (2017)




O que dizer do novo filme de Guy Ritchie? Que é grandioso, desde as primeiras imagens até aos créditos finais? Sem dúvida. Que consegue ser o épico que ambiciona ser? Absolutamente. Mas isso faz dele um filme brilhante? Aí é que a porca torce o rabo…

Após fazer uma incursão pelo universo do mais célebre detective da História, Sherlock Holmes, Guy Ritchie resolve recontar a história do Rei Artur e dos seus Cavaleiros da Távola Redonda. No entanto, fá-lo de forma não convencional para um filme deste género: a infância e juventude do Rei Artur é passada em modo fast forward, como se de um videoclip se tratasse, para chegarmos ao Artur adulto (Charlie Hunnam). Isto faz com que haja um certo desapego emocional em relação a esta personagem, por acompanharmos a sua evolução num abrir e fechar de olhos. Depois, temos a imagem de marca de Guy Ritchie que são os diálogos de taberna rápidos e acutilantes dos camaradas do Rei Artur e que estão presentes em quase todos os seus filmes, mas que aqui parecem destoar um pouco do tipo de filme. Quem aprecia este pormenor nos trabalhos de Ritchie, não vai sair defraudado.

Depois temos Jude Law a interpretar o vilão Vortigern, tio de Artur e usurpador do trono de Camelot. As motivações desta personagem deveriam ter sido mais aprofundadas no sentido de compreendermos as suas razões para odiar tanto o sobrinho a ponto de sacrificar membros da sua própria família para tentar derrubá-lo e elevar os seus poderes. 

Há também o aspecto da magia que tira alguma seriedade a um filme que, de outro modo, tem os pés bem assentes na terra. É óbvio que a magia sempre esteve presente neste conto, ou não fosse a espada Excalibur um exemplo disso mesmo, mas não era necessário exagerar - cobras e elefantes gigantes para quê? E por que razão Vortigern não usa os seus poderes de feiticeiro para aniquilar Artur e seus companheiros? Há muitas incoerências neste filme bem como a falta de uma boa história para o podermos considerar um clássico.

Nota: 2 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

sábado, 20 de maio de 2017

Alien: Covenant (2017)




«Alien: Covenant» é o filme mais recente da saga “Alien” e, tal como o anterior «Prometheus», surge-nos pela mão do mítico realizador Ridley Scott (que já nos trouxe trabalhos seminais como «Alien: O Oitavo Passageiro» e «Blade Runner»). Este novo capítulo é a continuação de «Prometheus» e explora mais detalhadamente o que aconteceu aos sobreviventes da fatídica nave com o mesmo nome. Por outro lado, a inclusão do título “Alien” sugere, e bem, que vamos ter a presença mais regular do xenomorfo assassino mais conhecido da galáxia e uma nova vaga de sangue, suor e lágrimas (já para não falar de tripas).

Tudo começa quando, algures no espaço, uma nave espacial chamada Covenant, a caminho de uma colónia planetária recebe uma transmissão oriunda de um planeta próximo. Com pouca vontade de fazer perdurar a viagem devido a um acidente que quase a vitimou, a tripulação decide investigar o planeta que, aparentemente se assemelha a um jardim do Éden, no sentido de saber se encontrou um lugar ideal para viver. Tudo parece correr bem até descobrirem que afinal não aterraram no Paraíso mas sim num Inferno infestado de criaturas grotescas e assassinas que não só comem carne humana como a usam para a reprodução. A partir daí está o caos instalado.

«Alien: Covenant» é melhor do que o anterior «Prometheus» no sentido em que apresenta um maior leque de criaturas alienígenas e tem bastante mais acção e consegue até aprofundar muitas das questões religiosas e metafísicas do último filme. Por outro lado, é desequilibrado, nunca decidindo se o seu lugar é no universo de «Prometheus» ou se pertence ao mundo de «Alien», o que pode irritar alguns espectadores. É igualmente um tanto desinspirado, na medida em que já vimos tudo isto noutros filmes, sobretudo em «Alien: O Oitavo Passageiro» e «Aliens» de James Cameron e feito de melhor forma.

Ainda assim, e considerando que se trata de um filme competente, com um grande trunfo na manga – Michael Fassbender no papel dos robôs David e Walter (que soberbo actor!) – vale sempre a pena ir vê-lo ao cinema. É um filme para fãs das sagas referidas e até para quem visita este universo pela primeira vez.

Nota: 3,5 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Ghost In The Shell - Agente do Futuro (2017)






«Ghost In The Shell» é o remake americano de um filme de animação japonês (anime) de 1995 que, por sua vez, é uma adaptação de uma manga japonesa com o mesmo nome. A ideia de base desta história é a fusão da tecnologia com a humanidade e os benefícios e perigos que daí podem advir. Neste remake americano acompanhamos a personagem Major (interpretada pela sobejamente conhecida Scarlett Johansson), o primeiro ser a ter um cérebro humano e um corpo completamente artificial. Major trabalha numa instituição policial chamada Secção 9 que está na peugada de um perigoso hacker capaz de aceder aos cérebros das pessoas e controlá-los.

Este remake apresenta um grande aparato visual, onde se destacam as cenas dos mergulhos da Major do alto de edifícios vertiginosos e as magníficas paisagens urbanas repletas de anúncios publicitários, claramente inspiradas na estética de «Blade Runner». A colagem visual a este filme e a falta de originalidade do enredo acabam por ser, no entanto, o calcanhar de Aquiles de «Ghost In The Shell»: já vimos o mesmo noutros filmes e explorado até de forma mais profunda («Robocop» é um exemplo óbvio).

Scarlett Johansson vai bem neste filme, abraçando sem dificuldade uma personagem austera e desprovida de emoção. Mais uma vez, e como já aconteceu em «A Grande Muralha» com Matt Damon, a escolha desta actriz ficou envolvida em polémica por ser uma cara americana num filme quase totalmente nipónico (e de raiz fortemente nipónica). Mas Hollywood considerou que era a única forma de vender uma história que, até aqui, passou ao lado de quase toda a sociedade americana.

À semelhança de Johansson, também o resto do elenco parece desprovido de emoção, funcionando de modo frio e maquinal. Isto é evidente na cena em que um suspeito é capturado pela Major e se suicida na prisão, em frente a todos, continuando os demais a falar como se nada tivesse acontecido.

«Ghost In The Shell» é para quem gosta de sci-fi com um travo a policial noir.  

Nota: 3,5 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

sábado, 1 de abril de 2017

Vida Inteligente (2017)





Daniel Espinosa traz-nos este «Life» ou «Vida Inteligente» em português, um amontoado de ideias retiradas de «Alien: O Oitavo Passageiro» com alguns momentos extraídos de «Gravidade» e até «Event Horizon». Com efeito, a colagem a «Alien» é tão grande que todo o filme parece um enorme decalque desse título seminal de ficção científica. Os guionistas - os mesmos que nos deram o interessante «Deadpool» - resolveram abandonar o mundo dos super-heróis para fazerem uma abordagem ao universo sci-fi, embora tenham dificuldade em fazer algo brilhante ou sequer original.

A narrativa resume-se ao seguinte: temos uma equipa de seis elementos, entre os quais Ryan Reynolds, Rebecca Ferguson e Jake Gyllenhaal, estacionados na Estação Internacional Espacial que recebem uma sonda que esteve a explorar solo marciano. Nessa sonda vem presente um organismo biológico unicelular que vem confirmar a existência de vida para além da Terra. A equipa e toda a humanidade rejubilam com a descoberta, tratando até de arranjar um nome carinhoso – Calvin – para o ser microscópico. Contudo, a situação muda quando Calvin começa a crescer exponencialmente e a revelar força e inteligência anormalmente grandes. Por fim consegue evadir-se e começar a fazer a vida negra à equipa que, tem agora como missão impedir que o organismo atinja solo terrestre.

O design da Estação Espacial Internacional é muito bom, tendo o espectador direito a um grande plano em que vemos os diferentes corredores e salas da estação e os efeitos especiais são bastante acima da média. O problema está na história feita de colagens dos filmes já mencionados, no enredo pouco credível (o monstro consegue desligar as comunicações da nave com a Terra, recorrer a utensílios e maquinaria complexa e deslizar convenientemente pelas condutas de ar) e nas personagens mal amanhadas: Rebecca Ferguson é tão certinha que irrita, Jake Gyllenhall é tão apagado que chateia e Ryan Reynolds tenta tanto ter piada que até dá dó. Melhores estão os secundários, particularmente o quase desconhecido Aryion Bakare na pele de um cientista paraplégico que cria um laço com a criatura.


Quem gosta de ficção científica pode dar um salto ao cinema para ver esta película, à sua responsabilidade. Quem não gosta, nem sequer deve atrever-se a sair de casa.    

Nota: 3 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes.