quarta-feira, 29 de março de 2017

Logan (2017)




Pela mão do realizador James Mangold chega-nos este «Logan», o último filme em que o actor Hugh Jackman encarna a personagem de Logan, o sobejamente conhecido Wolverine da saga X-Men. Este filme passa-se cerca de 12 anos no futuro, num mundo em que os mutantes pararam de nascer e os já existentes foram quase totalmente erradicados pelos humanos. Resta-nos, assim, Logan – envelhecido e com os seus poderes de cura mais limitados-, o Professor Charles Xavier e poucos mais mutantes que escaparam às garras dos seus destruidores.

Logan há muito deixou o seu nome para trás e ganha a vida como condutor de limusines enquanto tenta juntar dinheiro para sair do país com o Professor X (agora com crises de Alzheimer e uma mente instável capaz de semear o caos e destruição) quando o passado lhe bate à porta na figura de uma menina mutante com poderes muito semelhantes aos do Wolverine. A partir daqui Logan terá de levar Laura, a mutante, e o Professor Xavier numa viagem a um destino desconhecido e recheado de perigos.

«Logan» é, acima de tudo, um road movie, em que nos é permitido desfrutar das belas paisagens do interior americano. É também o filme mais brutal da saga, considerando que há decapitações, membros cortados e todo o tipo de fracturas e ferimentos. Como conclusão do universo X-Men (pouco provável, pois pode-se sempre pegar em qualquer outra das imensas personagens deste universo) é competente, embora não perfeito.

O ponto forte desta película é a interacção entre Logan, o Professor X e a menina (excelente interpretação da jovem Dafne Keen). Somos incapazes de esconder um sorriso sempre que vemos Logan tentar educar a selvática criança. Em contrapartida, os vilões deste filme são desinteressantes, pouco estando à altura de Wolverine e da sua pandilha. O maior vilão acaba por se traduzir nos demónios que habitam o próprio herói (e que se materializam a determinada altura do filme). O ritmo também não ajuda, com momentos em que pouco ou nada se passa e a duração do filme poderia, sem prejuízo para a história, ser reduzida em meia hora.

O tom sombrio e realista do filme, quase que a convocar um western, torna-o diferente dos outros filmes dos X-Men. Mas nem sempre isso joga a seu favor.

Nota: 3,5 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

quinta-feira, 23 de março de 2017

Kong: A Ilha da Caveira (2017)




Após uma ausência de doze anos (King Kong de Peter Jackson é de 2005), surge-nos novamente em cena o centenário gorila gigante King Kong, num novo filme passado na ilha que dá nome ao filme, a Ilha da Caveira. Em 1944, dois soldados, um americano e outro japonês, despenham-se numa estranha ilha desconhecida algures no Pacífico Sul. Enquanto se tentam matar um ao outro, surge-lhes literalmente à frente uma ameaça de enormes dimensões chamada Kong.

Passamos para 1973, após o término da Guerra do Vietname. Uma expedição encabeçada por um batedor (Tom Hiddleston), uma jornalista de guerra (Brie Larson) e um tenente-coronel veterano da Guerra do Vietname (Samuel L. Jackson), leva a cabo a missão de desbravar a Skull Island, último território desconhecido da humanidade e um mar de potencialidades para os descobridores. No entanto, cedo descobrem estar na presença de criaturas muito sui generis, entre as quais um gorila gigantesco chamado pela população local de Kong, que não estão dispostas a facilitar-lhes a vida. A partir do momento em que os helicópteros em que viajam até à ilha são abatidos por Kong, o caos está instalado. Os sobreviventes devem percorrer a ilha e chegar a porto seguro, ao mesmo tempo que se deparam com a fauna e flora daquela região misteriosa.

«Kong: A Ilha da Caveira» não é mais do que um filme de guerra, um pretexto para usar sequências de acção fabulosas (que o são, não haja dúvida), mas um desastre no que toca a tecer uma lógica para a sua própria história: por que razão existe um gorila de tão grandes dimensões numa terra onde quase tudo tem proporções normais é coisa que não sabemos. Igualmente desconhecemos a razão de haver uma tempestade permanente nas águas que envolvem a ilha. E o filme não se preocupa em explicar estas bizarrias. O tratamento dado às personagens não é muito melhor, sendo as mesmas unidimensionais e – à excepção do trio protagonista – carne para canhão das criaturas que habitam a ilha.

Este filme fica, assim, bastante aquém do «King Kong» de Peter Jackson. Não só lhe falta o glamour dos anos 30 (transpor a história para os anos 70 não foi uma boa ideia) e um certo romance emprestado à história por Jackson, como tenta recriar o ambiente de «Apocalypse Now» numa história de luta entre Homem e Natureza. 

Nota: 2,5 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes. 

segunda-feira, 6 de março de 2017

Moonlight (2017)




«Moonlight» é sobre a história de Chiron, um jovem negro que é perseguido pelos seus colegas por ser diferente, sofrendo fortes episódios de bullying. Para tornar a sua situação ainda mais difícil, o pequeno Chiron não tem qualquer tipo de compreensão em casa, pois a sua mãe, Paula, está gravemente dependente de drogas e prostitui-se para sustentar o seu vício.


Chiron acaba por encontrar refúgio junto de um casal mais velho, que o acolhe na sua casa. A sua relação com Juan (Mahershala Ali) e Teresa (Janelle Monáe), vai se desenvolvendo ao longo do filme e Moonlight dá-nos a oportunidade de seguir toda a vida desta personagem, desde os momentos de desespero e de culpa que Chiron sente, ao episódio que constrói o clímax do filme: a aventura homossexual que tem lugar durante a puberdade com o seu amigo Kevin e que assombrará o protagonista para toda a sua vida.


«Moonlight» trata-se de uma história dura mas bastante realista e terá sido por essa razão que levou o prémio de Melhor Filme na cerimónia dos Óscares. Apesar de não o ser, o filme acaba por funcionar como um documentário que retrata de forma precisa uma situação que hoje se passa no sul dos Estados Unidos da América.


Chiron é confrontado com questões de identidade, em que a sua existência vai contra os padrões da sociedade masculina onde vive. Os temas complexos que o filme aborda de forma natural são expostos ao longo de toda a narrativa, com um grande foco nas personagens que os vivem.


Ao ver o filme, temos a sensação de mudar de corpo por umas horas e de acompanhar de perto o mundo na perspectiva de Chiron que, experiencia uma história tão profunda e repleta de sofrimento, que, mesmo sentados no conforto de uma cadeira de cinema, acabamos por partilhar o seu tormento e sentir os seus dilemas na pele, o que se deve essencialmente à intensidade com que nos são apresentadas as personagens.


Nota: 4 em 5.


Desejo-vos muitos e bons filmes.