Antes de mais, «A Forma da Água» é um belíssimo filme para os
amantes da sétima arte em geral e do género de fantasia romântica em
particular. Guillermo del Toro volta a mostrar a sua garra num género que
aborda como ninguém desde que surgiu em cena em Hollywood no limiar dos anos
90.
Com uma fotografia a fazer lembrar «A Cidade das Crianças
Perdidas» de Jean-Pierre Jeunet e uma banda sonora recortada de «O Fabuloso
Destino de Amélie» do mesmo realizador, este filme conta a improvável história
de uma mulher – Elisa Esposito (brilhantemente interpretada por Sally Hawkins)
– incapaz de falar devido a um acidente na infância, que vem a travar
conhecimento com um anfíbio humanóide (retratado pelo sempre excelente Doug
Jones) pescado na América do Sul e aprisionado nas instalações de um centro de
pesquisa norte-americano. Rapidamente começam a entender-se por meio de
linguagem gestual e corporal até ao dia em que Elisa resolve tentar libertar o
ser peculiar para o devolver ao seu meio ambiente.
Não se pode partir para este filme com um olho crítico e
realista, pois há imensas cenas que desafiam os limites do absurdo (o quarto
submerso onde Elisa e o anfíbio se relacionam mais intimamente é o melhor
exemplo). Mais vale deixarmo-nos levar pela bela narrativa fantasista – onde
até cabe um número musical entre os protagonistas – e deliciarmo-nos com os
pormenores que nos salpicam os sentidos.
É de realçar também o papel de Michael Shannon que, apesar de
ter nascido para fazer de vilão, não chega a ser verdadeiramente um monstro, trata-se
sim de uma pessoa levada a agir por necessidade e desespero, ao contrário do
infame capitão Vidal de «O Labirinto do Fauno» que era um puro sádico.
No cômputo geral, «A Forma da Água» é um bom filme, mas não se sobrepõe a «O Labirinto do Fauno» que continua a ser a obra-prima do realizador mexicano devido ao facto de o espectador poder acompanhar esse filme do ponto de vista da crua realidade ou da negra fantasia. Em «A Forma da Água» a realidade está suspensa e a esperança mora ao fundo da rua. Altamente recomendável para quem gosta de sonhos agridoces.
Nota: 4 em 5.
Desejo-vos muitos e bons filmes.